No dia 01º/02, o Ministério da Saúde divulgou um boletim informando que, do início do ano até agora, o Brasil tem 52 mortes confirmadas decorrentes da febre amarela. Destas, 47 foram em Minas Gerais, três em São Paulo e duas no Espírito Santo. Os números assustam e levantam dúvidas sobre as formas de prevenção. Afinal, os gaúchos também precisam recorrer à vacinação?
Para responder a esta e outras questões a Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo (Unimed VTRP) conversou com a médica infectologista Cristiane Pimentel Hernandes. Ela explica que, no momento, não há surto de febre amarela no Rio Grande do Sul, mas o Estado é considerado área endêmica (local reconhecido pela transmissão de determinada doença) desde 2009, sendo recomendada a vacinação para quem mora neste território. A eficácia da imunização é acima de 97,5% e a proteção persiste por mais de 40 anos. Confira a entrevista abaixo:
Unimed VTRP – O que é a febre amarela?
Dra. Cristiane – É uma doença causada por um vírus, transmitido por mosquitos. Ocorre em locais de clima tropical, sendo mais comum na América do Sul e na África. A doença é chamada assim porque o paciente pode ficar com o corpo todo amarelo, condição chamada de icterícia. Apesar de ser considerado um vírus perigoso, pois pode evoluir para formas graves e até matar, a maioria das pessoas não apresenta sintomas e consegue se curar. A doença pode ocorrer nas regiões de matas e nos ambientes silvestres, por esta razão é chamada de febre amarela silvestre. Quando ocorre nas cidades, é denominada febre amarela urbana.
Unimed VTRP- Como ocorre a transmissão desse vírus?
Dra. Cristiane – A febre amarela silvestre é transmitida por mosquitos chamados de Haemagogus e Sabethes. Já a febre amarela urbana tem sua transmissão por meio do Aedes aegypti. Os últimos casos de febre amarela urbana no Brasil ocorreram em 1942, no Acre. Não há relatos de transmissão de febre amarela direta entre pessoas.
Unimed VTRP- Como a doença se manifesta?
Dra. Cristiane – Apesar de haver duas formas da doença, não há diferença de sinais e sintomas entre elas. A maioria das pessoas que adquire o vírus não apresenta sintomas. Quando os sintomas aparecem, há febre baixa, dores musculares em todo o corpo (principalmente nas costas), dores de cabeça, dores nas articulações, náuseas, vômitos e fraqueza. Esses sintomas duram entre três e quatro dias, podendo desaparecer. Alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves cerca de 24 horas após a recuperação dos sintomas mais simples. Existem casos que já iniciam com sinais bastante graves, atingindo órgãos importantes do corpo, principalmente o fígado e os rins. Nesta fase, os sintomas são febre alta, icterícia (amarelão) pela inflamação no fígado, vômitos com sangue, urina escura, sangramentos de pele e olhos avermelhados. Em casos mais graves a doença pode evoluir e causar a morte.
Unimed VTRP- Qual o risco de adoecer por febre amarela?
Dra. Cristiane – Qualquer pessoa não vacinada, que resida ou viaje para as áreas com risco de transmissão da doença estão suscetíveis a contrair a febre amarela. As chances são maiores em indivíduos com mais de 60 anos de idade e qualquer pessoa que conviva com alterações no sistema de defesa do corpo, como portadores de HIV/Aids, transplantados, pessoas com doenças reumatológicas que usam imunossupressores (medicamento que atua no sistema imunológico), entre outros.
Unimed VTRP- Existe tratamento?
Dra. Cristiane – Não existem remédios específicos contra o vírus da febre amarela. Orienta-se que medicamentos como anti-inflamatórios e ácido acetilsalicílico (AAS) não sejam usados para alívio dos sintomas. As formas graves devem ser tratadas no ambiente hospitalar.
Unimed VTRP – A alta taxa de óbitos decorrentes da febre amarela, principalmente no estado de Minas Gerais, alerta para medidas de precaução, especialmente nos locais próximos ao surto. O alerta vale também para a população do Rio Grande do Sul?
Dra. Cristiane – No momento, não há surto de febre amarela no Rio Grande do Sul, mas o Estado é considerado área endêmica (local reconhecido pela transmissão de determinada doença) desde 2009, sendo recomendada a vacinação para quem mora neste território, exceto no extremo sul, conforme o mapa do Ministério da Saúde (veja abaixo).
Unimed VTRP – Quais as medidas de controle recomendadas?
Dra. Cristiane – As medidas básicas são a prevenção da picada dos mosquitos e a vacinação. Em relação ao mosquito, orienta-se usar camisas de mangas longas e calças compridas, preferencialmente de cores claras; ficar em lugares fechados com ar condicionado ou que tenham janelas e portas com tela, para evitar a entrada de mosquitos; dormir com a proteção de mosquiteiros; evitar o uso de perfumes durante atividades ao ar livre e nos ambientes de matas silvestres; e utilizar repelentes adequados.
Unimed VTRP – Há orientação específica quanto ao uso do repelente?
Dra. Cristiane – Indica-se sempre seguir as orientações das embalagens. Quando usados corretamente, os repelentes são seguros e eficazes, mesmo na gestação ou amamentação. Porém, não podem ser usados em crianças com menos de seis meses de idade. (Há recomendações internacionais que indicam o uso a partir dos dois meses de idade). Outra medida importante é não aplicar repelente nas mãos das crianças, que podem levá-las à boca, e evitar o uso de produtos com associação de repelente e protetor solar na mesma formulação. Se for usar filtro solar, o ideal é aplicá-lo antes do repelente.
Unimed VTRP – Toda a população deve ser vacinada?
Dra. Cristiane – A vacina é constituída de vírus vivo atenuado, isso quer dizer que ele foi enfraquecido para não causar doenças em pessoas saudáveis. O efeito aparece cerca de 10 dias após a injeção. A eficácia é acima de 97,5% e a proteção persiste por mais de 40 anos.
Esta vacina está indicada a partir dos nove meses de idade. Porém, em condições de surto, como o que está ocorrendo agora no estado de Minas Gerais, poderá ser antecipada para os seis meses de idade. No Brasil, são recomendadas duas doses:
· Crianças: a primeira dose aos noves meses e uma dose de reforço aos quatro anos de idade;
· Crianças maiores de cinco anos não vacinadas ou adultos não vacinados: deve ser aplicada uma dose, com um reforço em 10 anos;
· Maiores de cinco anos com uma dose realizada antes dos cinco anos: uma dose de reforço.
Unimed VTRP – Quem não pode receber a vacina?
Dra. Cristiane – Nem todas as pessoas podem ou devem receber a vacina, necessitando sempre indicação médica. Algumas situações clínicas aumentam o risco de complicações com a vacina e, por isso, contraindicam a aplicação, como: pessoas com alergia a algum componente da vacina e/ou alergia a ovos e derivados; doenças que levam a alterações no sistema imunológico, congênitas (desde o nascimento) ou adquiridas, incluindo quimioterapia e doses elevadas de corticosteroides; histórico de doença do timo (órgão linfático), incluindo a miastenia grave (fraqueza muscular grave), câncer no timo ou remoção do timo; indivíduos infectados pelo HIV que estejam doentes ou apresentam defesas baixas; e crianças menores de seis meses de idade.
Pessoas acima de 60 anos, gestantes e mulheres que estão amamentando crianças menores de seis meses devem contar com uma avaliação individual para indicar riscos e benefícios desta vacinação.
Unimed VTRP – A imunização causa alguma reação após a sua aplicação?
Dra. Cristiane – As reações que podem acontecer após a vacinação são raras. As mais comuns são: dor de cabeça e alterações no local de aplicação como dor, vermelhidão, hematomas e inchaços, que podem ocorrer até dois dias depois da vacina. Outras reações comuns podem aparecer, como: náusea, diarreia, vômito, dor muscular, febre e cansaço, ocorrendo após o terceiro dia da vacina. Existem ainda as reações incomuns (aparecem em menos de 0,1% dos pacientes), como problemas neurológicos, causando infecção no sistema nervoso. Elas ocorrem de sete a 21 dias depois da aplicação da vacina.
Unimed VTRP – Se a pessoa não lembra se fez a vacina, tem alguma contraindicação em vacinar-se novamente?
Dra. Cristiane – O correto é todos revisarem suas carteiras de vacinação, ou ainda, retirarem uma segunda via nos postos de saúde de origem. Porém, em caso de impedimento, e em situações de surto, deve-se fazer a dose de reforço recomendada.
CRÉDITO DA IMAGEM – DIVULGAÇÃO / MINISTÉRIO DA SAÚDE
É gratuito e saudável.