Saúde mental: Tecnologias e redes sociais influenciam diretamente na saúde mental
O tempo de tela e o conteúdo consumidos podem interferir nos quadros de depressão, ansiedade e estresse, em todas as idades
06 de setembro de 2021
A internet e as tecnologias estão cada vez mais presentes na nossa vida e já não há dúvidas de que esses recursos modificam o comportamento das pessoas.
Ainda que proporcionem inúmeras facilidades, alguns especialistas ressaltam o impacto emocional e social gerado por elas.
Hoje, por exemplo, sabe-se que o uso das redes sociais exige atenção, pois elas interferem diretamente nos quadros de depressão e ansiedade dos usuários.
O tipo de conteúdo consumido pode influenciar na saúde mental das pessoas, inclusive o tempo dedicado às telas também tem forte impacto na rotina, no humor, no ciclo do sono, no comportamento alimentar e nos relacionamentos.
Conforme explica o psicólogo da Unimed VTRP, Luis Fernando da Veiga, essas alterações emocionais acontecem devido aos marcadores socioculturais que instituem padrões ideais de beleza, comportamento e felicidade.
“Eles fomentam a sensação de despertencimento, desvalor e desamparo. Esses atravessamentos podem somar a quadros de depressão, estresse, ansiedade e condutas autoagressivas e autolesivas”, afirma.
Mas é importante ressaltar que o uso das tecnologias e redes sociais não é o único fator que desencadeia os transtornos mentais, afinal, as doenças são diagnosticadas como multicausais .
“Ou seja, é um conjunto de fatores que fomentam os quadros clínicos”, esclarece o psicólogo.
Rotina tecnológica x saúde mental
Pesquisas mostram que o uso das telas pode alterar o funcionamento do cérebro, principalmente no que se refere aos neurotransmissores do bem-estar.
As tecnologias, quando em excesso, potencializam esse funcionamento de uma maneira não saudável e, inclusive, causam fenômenos de dependência .
“Devemos considerar alguns níveis de dependência com o sistema de recompensa cerebral, principalmente abarcando as moléculas de dopamina, uma das responsáveis pela motivação e pelo prazer”, alerta da Veiga.
Hoje já se sabe que o uso excessivo de telas dificultam a concentração, o raciocínio e a memória, o que implica no pensamento crítico, na criatividade, aprendizagem e comunicação.
Por isso, saber dosar o tempo conectado é fundamental, principalmente para as crianças e adolescentes.
Os jovens precisam de rotina e limites e cabe aos pais avaliarem a quantidade e qualidade do tempo reservado para eles acessarem o mundo virtual.
“É papel da família provocar um ambiente fértil para a criança brincar assim como permitir que o adolescente também habite os seus espaços e grupos”, destaca Veiga.
Independentemente da idade, seja criança ou adulto, é possível combinar a rotina com o uso da tecnologia, sem que o movimento se torne algo prejudicial à saúde do indivíduo.
O problema é quando sinais de sofrimento e prejuízo surgem nos momentos em que não é possível ter acesso ao universo digital.
“As tecnologias são instrumentos que podem e devem ser utilizados de maneira criativa e não como recursos preenchedores de tempo, tédio, ócio e afetividades.
A aprendizagem da vida real precisa ser primordial”, afirma o psicólogo.
Os adultos também se tornam dependentes
Diferente do que muitas pessoas imaginam, não são somente os jovens que sofrem com o tempo dedicado as redes sociais.
De modo geral, as famílias estão muito conectadas e não somente as crianças.
Os jovens de hoje são chamados de nativos digitais, ou seja, nasceram em um mundo virtualizado.
Mas muitos dos pais desses jovens também vivenciaram o processo de revolução digital e tornaram-se ativos nas telas.
Eles são peças-chave no processo da inserção do universo virtual.
Segundo Veiga, a tecnologia influenciou na relação pais e filhos, visto que muitos adultos terceirizaram para as telas a tarefa de cuidar e educar os pequenos.
Por isso, é normal para algumas pessoas que o virtual dite suas regras de comportamento.
Pensar sobre a relação da criança com a tecnologia é pensar sobre os vínculos da sociedade com o ambiente virtual e considerar a informatização e a globalização nos atravessamentos socioculturais e ajustes de trabalho e família.
Atente para os perigos da internet
O ambiente virtual encoraja muitas pessoas a exporem suas opiniões, principalmente aquelas mais tímidas no contato real.
O que é muito bom para o seu desenvolvimento social e a construção de novas relações.
Mas há quem abuse desse estímulo e liberdade de expressão para prejudicar terceiros.
Por meio da internet praticam o cyberbullying, o assédio virtual, crimes de exploração e violência sexual, divulgam conteúdos inapropriados e chantageiam usuários.
Entre os jovens é mais comum a prática do cyberbullying, caracterizado pela prática de violência psicológica e perseguições com o uso das ferramentas digitais.
“Considerando o mundo virtual, devemos entender que a propagação de conteúdo é imediata e há descontrole do alcance, desse modo, intensificando riscos e sofrimentos para a saúde mental”, explica o psicólogo.
Por isso é imprescindível que as famílias e escolas provoquem discussões sobre a responsabilidade do que se faz no mundo virtual e suas consequências, afinal, todos estão sujeitos aos perigos da internet.
“A internet não é uma terra sem lei e há um falso anonimato que abre fronteiras para situações de xingamentos, ofensas, preconceitos e desmoralização que precisam ser combatidas por todos”.
Em casos extremos, os danos causados a alguém podem ser levados a julgamento.
Nesta situação, cabe lembrar que todas as postagens e conversas no mundo eletrônico podem ser considerados prova real em investigações e processos judiciais. Portanto, todos precisam atentar ao que publicam.
Categoria: Equilíbrio | Saúde Emocional