*Por Stephen Stefani
O câncer de próstata é muito frequente – no Brasil são registrados quase 70 mil novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). É possível descobrir o câncer em estágios iniciais com um exame de sangue chamado PSA (antígeno prostático específico) e com o toque retal. E é possível curar os pacientes com cirurgia e com radioterapia. Até aí é consenso. Também tem sentido gerar espaço e campanhas para discutir saúde do homem – inclusive vários países estimulam que os homens deixem crescer o bigode no mês de novembro (o chamado movember, fazendo um trocadilho com a palavra bigode – mustache, em inglês – e também com o mês) para ampliar a exposição do tema.
O grande debate vigente é sobre quem são as pessoas que devem realizar o rastreamento. Diferente da mamografia, que definidamente reduz a mortalidade por câncer de mama, o uso sistemático e a confiança que se deposita no exame de sangue exclusivamente, sem identificar quem é a pessoa que realmente pode se beneficiar da triagem do câncer de próstata, é uma expectativa discutível. Nem sempre se identifica alternações que se traduzem, efetivamente, em doença. Em outras palavras: nem sempre um exame alterado significa que o indivíduo tenha ou terá uma doença que possa colocar sua vida em risco.
O que as campanhas devem focar é na importância de uma avaliação adequada com um médico treinado e que saiba apresentar as opções de manejo, exames de triagem e, no caso de diagnóstico definido de câncer, o tratamento, que pode ser desde uma cirurgia de grande porte, passando por radiação e até manejo conservador e expectante (processo terapêutico de acompanhar a doença) sem necessidade de tratamento se o “tumor” (repare nas aspas) não tem uma evolução de risco.
Se há algum sintoma para urinar (como desconforto, alteração na força do jato, mudança na cor ou frequência urinária) deve ser feita investigação adequada. Mesmo sem sintomas, uma visita médica é pertinente para orientação e recomendações preventivas. Vários estudos epidemiológicos demonstraram, por exemplo, a importância de realizar atividade física e manter um peso adequado.
De qualquer forma, o azul que colore o novembro tem a importância de desestigmatizar uma condição comum e ilustrar sobre medidas que possam evitar mortes precoces nos homens. O que não se pode sugerir é que um exame só resolva a complexa condição que é o câncer.
*Médico oncologista e coordenador científico da Clínica de Oncologia da Unimed em Santa Cruz do Sul
É gratuito e saudável.